sábado, 7 de abril de 2018

MORRE O POETA ANTONIO MOYSES



O VITORIENSE 
ANTÔNIO MOYSES DA SILVA NETO:
POETA, PROFESSOR, TÉCNICO E POLÍTICO

Texto: Washington Cantanhêde

Nascido na cidade de Vitória do Mearim a 8 de agosto de 1946,  Antonio Moyses da Silva Neto, fundador e ocupante da Cadeira nº 1 da Academia Arariense-Vitoriense de Letras - AVL (patrona: professora Ana Bogea Gonçalves), faleceu e foi sepultado em 6 de abril de 2018 – aos 71 anos de idade, portanto – após dois meses de sofrimento sob internação hospitalar em decorrência de uma pneumonia, com outras complicações ocorridas nesse período.
 
Os pais de Moysés,
Miguel (falecido nos anos 60)  e Lolinha
(ao centro, parte superior)
Já não está entre nós, em matéria, o neto do libanês Antônio Moyses da Silva (que no Líbano tinha o sobrenome Moyses Abussale) e da síria Salma Bichara, radicados em Vitória do Mearim; o filho de Miguel Moysés da Silva e Valdemira Marinho da Silva (D. Lolinha), esta pertencente à tão vasta quanto importante e antiga família Marinho; o irmão das professoras Marly e Marlene que, assim como o pai, foi importante politico na sua terra.

Repousa sob a campa fria, solitário, o conhecido Professor Moyses, que lecionou Geografia em vários colégios e na maioria dos cursos pré-vestibulares de São Luís desde os anos 1970; e, licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão, foi professor desse curso da mesma instituição a partir de 1980.
  

Deixou-nos no final da tarde deste triste 6 de abril de 2018 o técnico renomado da área de meio ambiente do Governo do Estado do Maranhão, onde exerceu importantes cargos de direção, como o de secretário executivo do Conselho Estadual do Meio Ambiente, chegando a ser secretário de estado do meio ambiente. Especialista em Planejamento e Desenvolvimento Regional e em Elaboração e Análise de Projetos, participou de várias comissões técnicas para estudo da viabilidade de implantação de projetos da área econômica no Maranhão. Reconhecido pela sua competência profissional, exerceu o cargo máximo (gerente executivo) do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente-IBAMA no Maranhão, de 20/01/1999 a 04/04/2003.





Já não podemos comprazer-nos com o sorriso largo e acolhedor e a preocupação paternal para com os amigos que caracterizavam aquele que foi vereador de Vitória do Mearim (1973/1977), dirigente partidário em sua terra, candidato a vice-prefeito em 1988, a deputado estadual em 1990 e a prefeito em 1992, sempre obtendo expressivas votações.

Dói-nos sobremaneira já não podermos ouvir o poeta festejado declamando um dos seus poemas inéditos em meio a festiva confraternização com amigos e familiares, daquelas tão fartamente promovidas em sua casa.

Hoje, em nome próprio e no da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, que com ele e vários outros vitorienses, assim como ararienses, fundamos em 29.01.2000, tive a oportunidade de dizer, publicamente, despedindo-me do conterrâneo ante o seu corpo inerte, da influência que ele exerceu sobre mim, desde quando, em meados dos anos 1970, ainda adolescente, travei contato com a sua obra, levado, que fui, a declamar publicamente alguns de seus poemas. Nunca mais o perdi de vista. Mirei-me nele como um dos exemplos a seguir na vida – o canto de vitória do menino de família humilde na capital do Estado, mercê do estudo e da obstinação.

O primeiro poema de Moyses, A barca, ele o escreveu aos 12 anos de idade, celebrando o ir-e-vir das lanchas pelo Mearim. Parte de sua obra poética está em uma coletânea e no único livro que publicou, Os tamancos do vaqueiro, ambos de 1975.







Foi como membro da chamada “geração hora de guarnicê” que Antonio Moyses Neto inscreveu o seu nome na história da literatura maranhense. Aquela geração despontou no início dos anos 1970, na efervescência da ditadura militar, resultando da sua produção poética uma amostra publicada em 1975, sob a orientação do saudoso Jomar Moraes: a supracitada coletânea, intitulada Hora de Guarnicê – poesia nova do Maranhão, com poemas de Moyses, Chagas Val, Cyro Falcão, Cunha Santos Filho, Edmilson Costa, Francisco Tribuzi, Henrique Correa, João Alexandre Jr., Johão Wbaldo, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Rossini Correa, Valdelino Cécio e Viriato Gaspar – a maioria dos quais, como se vê, ganhou destaque no cenário cultural do Maranhão dos anos seguintes, sendo, para além dessa importância regional, um nome nacional, hoje, o de Luís Augusto Cassas.

Aquela geração marcou um momento significativo da história literária maranhense no Século XX, saudado por Josué Montelo, no prólogo da coletânea, como uma hora de assunção de compromisso dos jovens poetas com os valores de sua terra e de sua gente, até no nome escolhido para a coletânea, próprio do linguajar do folguedo do bumba-meu-boi, trazendo, assim, “a inspiração da terra, recolhida nas fontes mais profundas de sua cultura popular” e “uma mensagem de angústia, de indagação ou de intuição das horas advindas”.

Moyses foi, por tudo isso, um dos mais importantes vitorienses da atualidade. Vitória do Mearim reconhece-o mais como o político de expressão local, mas o Maranhão o tem como o excelente técnico que ele mostrou ser nos cargos relevantes que ocupou, mercê do seu inegável preparo, e como um verbete da história da cultura do Estado. 

A sua obra continuará frutificando. E não somente porque os seus vários trabalhos inéditos reclamam a publicação que a família enlutada, de par com a Academia Arariense-Vitoriense de Letras, já anuncia que trará a lume oportunamente. Continuará dando frutos, também e principalmente, na trajetória profissional e pessoal dos filhos Miguel Antônio, Ricardo e Michele, que ele tão bem soube preparar para a vida, ao lado da sua abnegada esposa Vilma Figueiredo da Silva. 


Moysés e sua irmã a professora Marly Moyses

Moysés, de chapéu e calça azul, conversa seus conterrâneos
no velho Abrigo da Praça Rio Branco

Moyses ladeado pelos filhos André e Miguel

Lolinha, mãe de Moyses, ao lado
do seu afilhado Paulo Tarso Barros


Que sigam a sua esposa e os seus filhos e netos norteados pelo exemplo de inspiração, competência e garra que constitui o seu maior legado!

Vida assim, tão rica de significados e realizações, é também, sem dúvida, grande facho a iluminar os passos dos seus conterrâneos de Vitória do Mearim.

Descanse em paz, caro amigo, conterrâneo e confrade, coparticipe do sonho da AVL, Antônio Moyses da Silva Neto!

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A prefeita de Vitória do Mearim, Dídima Maria Corrêa Coêlho, decretou luto oficial de 3 dias em memória do poeta, acadêmico da AVL e ex-vereador Antonio Moyses Neto.




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