segunda-feira, 19 de abril de 2021

SÍMBOLOS MUNICIPAIS - UMA MEMÓRIA

NO ANIVERSÁRIO DE VITÓRIA DO MEARIM,

UMA MEMÓRIA SOBRE OS SÍMBOLOS MUNICIPAIS,

30 ANOS DEPOIS

 


Por: Washington Luiz Maciel Cantanhêde

 

Há trinta anos, em solenidade realizada pela Câmara Municipal de Vitória do Mearim, então presidida por mim, eram apresentados os símbolos oficiais do Município.

A solenidade foi o cumprimento de uma obrigação imposta pela Lei Municipal Nº 7-A, de 1º de dezembro de 1990, que instituiu tais símbolos, cujo projeto tinha sido de minha iniciativa antes de ser eleito presidente da Câmara, em parceria com João Batista Jardim Borges (João Macário), que na Casa representava a região do Lago Açu, ainda pertencente ao Município.

 Decidiu-se pela data de 19 de abril de 1991 para a referida apresentação porque então se completariam os 160 anos de um movimento dos moradores mais destacados de Vitória do Mearim, em abril de 1831, traduzido por uma representação pela sua emancipação política, encaminhada à Câmara de São Luís, considerando que a região em que habitavam preenchia os requisitos legais para obter autonomia, pois, “dando sete eleitores, tinha maior número de fogos dos que os exigidos para a criação de qualquer vila”. A emancipação viria somente dois anos depois, por decisão do Conselho Geral da Província do Maranhão, adotada em sessão realizada no dia 19 de abril de 1833, mas a iniciativa dos vitorienses, dois anos antes, foi deveras importante para isso, pois verbalizara com sólidos argumentos o desejo de autonomia.

 Se não tinha sido fácil, em 1990, obter a aprovação do projeto de lei instituindo os símbolos e sua efetiva conversão em lei (eu e meu colega João Macário éramos da bancada de oposição, minoritária; e a lei não recebeu sanção expressa do prefeito municipal, precisando ser promulgada pelo presidente da Câmara, vereador José Aguiar, depois de muita insistência minha), melhor sorte também não teve a sessão solene do Poder Legislativo para sua apresentação: foi boicotada pelos membros do Executivo, que não compareceram ao ato e ainda realizaram festividades paralelas, descumprindo a lei municipal que previu uma realização conjunta dos dois poderes locais para marcar o transcurso do aniversário do Município e dos 160 anos do movimento pela sua emancipação (artigo 19).

 


Embora parcialmente prejudicada, também, pela forte chuva que caiu sobre a cidade na tarde de 19 de abril de 1991, o comparecimento popular à solenidade não decepcionou. Em meio aos discursos proferidos pelos vereadores do grupo de oposição, pois os que apoiavam o prefeito e seu governo também não compareceram, ao som dos dobrados executados pela Banda Paroquial e com a presença do autor da letra e da música do hino municipal, Sr. José de Ribamar Duarte, vitoriense nascido no povoado Lapela, conhecido em São Luís como Tio Zeca, os símbolos foram apresentados.

 

O povo recuperou, então, a emoção e o fascínio que lhe causava aquela bandeira multicor utilizada com entusiasmo nos atos oficiais a partir de 1971, mas que, de meados dos anos 1980 até aquele momento (abril de 1991), não passava de uma pálida lembrança. Pálida, decrépita e distante, por sinal. É que remanescia um dos dois exemplares que foram confeccionados em 1971, mas estava desbotado, puído e com paradeiro ignorado.

 O povo passou, desde então, a conviver diariamente com a evocação de sua própria história, representada pelo brasão emoldurado posto em local de destaque na Câmara Municipal; e também passou a ter um hino para cantar, do qual podia orgulhar-se, intitulado Soberano, composição de um conterrâneo em homenagem ao Rio Mearim e sua ribeira de histórias mil.



 A bandeira começara a ser utilizada em 1971, quando era prefeito municipal o Sr. Cristóvão Dutra Martins, que mandou confeccioná-la em São Paulo, a cargo do heraldista Arcinoé Antônio Peixoto de Faria, e que obteve sua aprovação pela Câmara Municipal, em agosto daquele ano, embora sem apresentar, para isto, um projeto de lei, como era exigido. Esse símbolo, portanto, não fora instituído oficialmente. E, com o tempo e o descaso, acabou relegado ao esquecimento.

 A restauração do brasão e da bandeira, esta contendo aquele, foi trabalho individual meu em um primeiro momento, socorrendo-me de algumas fotografias onde a bandeira aparecia parcialmente, de um texto com sua descrição heráldica (cedido por Dr. José de Ribamar de Matos, ex-prefeito) e de pesquisa em várias fontes, inclusive obras raras de referência, como a Grande Enciclopédia Luso-Brasileira. Ao final, e já com o auxílio artístico e o empenho característico do conterrâneo Airton Marinho, que elaborou o brasão em xilogravura e contratou experientes profissionais do bairro Madre Deus, em São Luís, foram confeccionados três exemplares bordados da bandeira. Um deles, com esmerado acabamento, que durante muito tempo ficou na Sala das Sessões da Câmara Municipal, dali foi depois retirado a pedido de um prefeito, a pretexto de mandar fazer outro igual, para nunca mais ser devolvido nem visto, tampouco saber-se aonde foi parar.


 O hino, composto por Tio Zeca em dezembro de 1981 sob encomenda da administração municipal, não recebeu a importância devida. Instado por meu colega João Macário, que me propôs a apresentação de um projeto de lei criando o hino municipal, eu, que também já alimentava a ideia, sabedor da composição de autoria de Tio Zeca, procurei contactá-lo para obter uma cópia do trabalho, o que consegui mediante a ajuda de meu pai, Antônio Duarte Cantanhede, também músico e conhecido dele. A partitura obtida foi adaptada para cada instrumento musical pelo maestro Vicente Antônio Gonçalves (Vicente Braga), que, à frente da Banda Paroquial, já o executava naquele tempo. Sua letra é simples, de forte apelo popular – o que é muito bom.

 A instituição dos símbolos era não só o cumprimento de uma determinação da Lei Orgânica do Município (artigo 5º), mas a restauração de um bem cultural menosprezado (bandeira e brasão nela contido) e um caso de justiça para com o conterrâneo Tio Zeca.

 Apresentados esses símbolos, publicamente, na tarde do dia 19 de abril de 1991, o que se seguiu foi a generalização do seu uso até hoje, apesar da tentativa de eclipsá-los naquela ocasião, ou de eclipsar os responsáveis pela sua instituição. Já no dia 7 de setembro de 1991, presenciava-se em frente à Prefeitura Municipal, ao fim do tradicional desfile estudantil alusivo ao Dia da Pátria, o hasteamento da bandeira do Município simultaneamente à execução do seu hino, da forma como foram instituídos. Nas camisas do fardamento escolar, no timbre dos documentos oficiais locais, nos desfiles, nos jogos de futebol, nos feriados cívicos, nos cortejos fúnebres de autoridades ou ex-mandatários etc., é uma constante a presença do brasão ou da bandeira municipais e, dependendo do caráter festivo que o ato tenha, a execução do hino, do qual sobressai o refrão: Óh, gleba querida!/Teu nome é Vitória./És minha vida, és meu amor/E minha glória.” Há 30 anos, sem interrupção...



 Estou muito feliz hoje, apesar do momento difícil que atravessamos. Em meio à pandemia de covid-19, que manifesta a sua face mais cruel no Brasil destes dois últimos meses, acabei de assistir, no facebook, a uma interessante releitura do hino, em ritmo de samba, cantado pelo nosso artista popular Edivaldo Brito, com acompanhamento de outros músicos da terra.

 Vitória completa: trinta anos depois, os símbolos vitorienses são, definitivamente, do povo de Vitória do Mearim!

  (São Luís do Maranhão, 19 de abril de 2021)


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