Como parte das comemorações dos 184
anos de emancipação política de Vitória do Mearim, a AVL realizou sessão solene
no dia 21 de abril de 2017, sob a presidência do Dr. Washington Cantanhêde, que conduziu de forma
admirável os trabalhos.
O evento aconteceu na quadra de esportes da Igreja
Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, em parceria com a Prefeitura Municipal através da Secretaria de Cultura.
Na ocasião, a AVL deu posse ao seu mais novo integrante do quadro de membros efetivos da Seção Vitoriense, o músico e escritor Pedro Barros Neto, que passou a ocupar a Cadeira nº 37, cujo patrono foi o músico e político Lourenço Pereira Pinto, e que teve como antecessor o também músico Tio Zeca (José de Ribamar Duarte), já falecido — e que foi o fundador da cadeira.
Pedro Barros Neto nasceu em Vitória do Mearim, em 23 de março de 1952. Filho de Euzemar
dos Santos Barros (Bazinho) e Miriam Bogéa e Silva. Ele é Músico, compositor e
autor de crônicas e artigos publicados no seu blog http://barrosnetopedro.blogspot.com.br/. Pedro trouxe a
público o dobrado "Capitão Pedro Gonçalves", composto por seu
patrono, cuja partitura estava em arquivo público e há muitos anos não era
executada. Essa peça musical foi gravada pelo novo acadêmico, sendo muito
aplaudida pelos presentes.
Na ocasião, a AVL deu posse ao seu mais novo integrante do quadro de membros efetivos da Seção Vitoriense, o músico e escritor Pedro Barros Neto, que passou a ocupar a Cadeira nº 37, cujo patrono foi o músico e político Lourenço Pereira Pinto, e que teve como antecessor o também músico Tio Zeca (José de Ribamar Duarte), já falecido — e que foi o fundador da cadeira.
Centenas de pessoas lotaram a quadra para assistir e participar desse momento tão relevante e inédito na história do município. Nunca tantos vitorienses ilustres receberam o reconhecimento oficial e foram tão solenemente homenageados como nesse dia, que foi animado pela excelente banda musical Big Fire, do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão.
Almir Coêlho entregou o Colar acadêmicoa Pedro Barros Neto |
Paulo Tarso Barros faz o discurso de recepção |
Em uma cerimônia marcada por muitas lembranças, foram homenageados 49 músicos e atletas, alguns in memoriam, que
receberam A Comenda do Mérito Vitoriense. Familiares vivenciaram momentos de grande emoção ao recordar dos seus antepassados, que receberam essa homenagem por parte da AVL e do Município de Vitória do Mearim.
Para completar tão marcante momento
histórico, a prefeita Dídima Coelho assinou, na presença do padre Isaac
Silva, o Decreto de tombamento da Igreja Matriz.
Prefeita Dídima Coêlho entrega o Decreto de Tombamento da Igreja Matriz ao padre Isaac Silva (vide foto abaixo) |
OS 30 MÚSICOS QUE RECEBERAM A COMENDA DO MÉRITO VITORIENSE
30 músicos da geração formada por
Áureo Bartolomeu Franco, Mestre Arico,
contemporâneos artísticos dessa geração ou que por ela foram influenciados em
sua arte, a saber: Antônio Franco Cardoso
(clarinete), Antônio Duarte Cantanhede (bombardino e trombone), Arão Rodrigues
Figueiredo Filho (bateria), Ary Sarmento Cardoso (piston), Augusto Sarmento
(piston), Dário Soares (pandeiro), Deoclides Garros Batista (banjo), Deodato
Santos Teixeira (sax), Domingos
Marinho Neto (maracá), Francisco das Chagas Marinho (trompa), Franklin Leite
Dutra (banjo), Graciliano Garros Batista (pandeiro), Itacy Nery Matos
Figueiredo (trombone), João Cantanhede (clarinete),
José Aragão, (vocal e bateria), José
Cordeiro (maracá), José Franco Cardoso (bateria), José Ribamar Borges (bateria
e pandeiro), José Ribamar Serejo (sax), Juarez de Jesus Prazeres (tuba),
Lourival José Coelho (trombone), Raimundo Maciel (clarinete),
Manoel Furtado de Melo (pratos e pandeiro), Milton Soares (trompa),
Oscar Rocha Pinto (piston), Raimundo Aragão (banjo), Rubens Bezerra Franco (sax
alto), Sebastião Jardim (clarinete), Valmir Rodrigues (piston) e Vicente
Antônio Gonçalves (trombone e tuba).
OS 13 ATLETAS QUE RECEBERAM A COMENDA DO MÉRITO VITORIENSE
Também foram distinguidos
com a Comenda 13 atletas
vitorienses, por nascimento ou por adoção, que disputaram, pela seleção de
Vitória do Mearim, os jogos do VIII Torneio Intermunicipal de Futebol do
Maranhão, realizado em São Luís pela Federação
Maranhense de Desportos, no período de 10 a 25 de dezembro de 1961,
sagrando-se vice-campeãos em memorável campanha:
Ademar Coelho Vieira, Antônio Carlos
Rodrigues Figueiredo, Arão Almeida Faray Filho, Cristóvão Dutra Martins, Euzamar dos Santos Barros, Itacy Nery
Matos Figueiredo, João Bezerra
Franco, João Câncio Almeida, Jonas
Braulino Correa, José de Nazaré
Jardim, José Raimundo Furtado Prazeres, Moacy das Mercês Marinho e Vicente
Antônio Gonçalves. Igualmente serão agraciados 4 (quatro) outros atletas vitorienses
da mesma geração que estiveram como jogadores da reserva da seleção de Vitória
do Mearim no VIII Torneio Intermunicipal de Futebol e jogaram em outras
competições da mesma época: Crescêncio Almeida Mercês, Didier Macedo Dutra, José
de Ribamar Leite e Lourival Teixeira de Carvalho.
Por fim, o Município prestou homenagem a
mais 2 (dois) atletas do passado não tão longínquo do futebol vitoriense, atletas
que se notabilizaram na geração seguinte àquela de 1961: Esdras Bezerra Franco,
goleador considerado um jogador de talento completo e excepcional; e Antônio
Benedito Macedo Dutra (Mandu), goleiro de grande talento que sucedeu a José
Jardim na seleção vitoriense e é uma referência quando o assunto é a memória
local nessa área.
O TOMBAMENTO DA IGREJA MATRIZ DE NOSSA
SENHORA DE NAZARÉ
A Igreja Matriz da Paróquia de Nossa
Senhora de Nazaré, criada mediante resolução do rei de Portugal em 1723 é o
templo que, depois de um incêndio ocorrido em 1827, foi na sequência
reconstruído em pedra e cal, principalmente por iniciativa e mediante recursos
da própria comunidade católica local; e é um edifício que guarda, abaixo do seu
piso, transformado em pó, o que restou dos antigos vitorienses, ali sepultados
ao longo do século 19.
OS QUATRO NOVOS MEMBROS BENEMÉRITOS DA
ACADEMIA AVL
Durante essa sessão memorável, a AVL concedeu também títulos de Membros Beneméritos a 4 músicos com mais de 80 anos que passam a integrar os quadros da Academia:
Antônio Cantanhede (membro nº 003 - Patrono: Marcelino Duarte Cantanhede, seu pai, músico; João Cantanhede (membro nº 004 - Patrono: Pedro José Lópes Gonçalves, músico); Vicente Antonio Gonçalves (Vicente Braga), membro nº 005 - Patrono: Antônio Isaias Gonçalves (Antônio Braga), seu pai, músico; Juarez Prazeres (membro nº 006 - Patrono: Paulo de Figueiredo Barros, músico).
Veja quem são os demais Sócios Beneméritos em:
http://avl-academiadeletras.blogspot.com.br/p/membros-benemeritos.html
Veja quem são os demais Sócios Beneméritos em:
http://avl-academiadeletras.blogspot.com.br/p/membros-benemeritos.html
A partir da esquerda: João Cantanhede (1), Antônio Cantanhede (2), Manoel Barros, Oscar Rocha e Vicente Braga (3). Juarez não estava presente. |
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O DISCURSO DO PRESIDENTE
WASHINGTON CANTANHÊDE
Eu me recordo!
Era um tempo
difícil. Os recursos não eram tão acessíveis quanto o são hoje. Mas aqueles
homens eram alegres, compenetrados e, sobretudo, competentes. Gozavam de fama
por terem sido discípulos de quem, de fato, tinham sido. Por isso, eram
chamados para mostrar o que sabiam fazer até em lugares, naquela época, considerados
longínquos.
Eu, criança, os vi
muitas vezes ensaiando para isso na minha casa. Eu os via apresentando-se
publicamente. E até acompanhava, um tanto à distância, também na minha casa, a
entrega a cada um, por meu pai, da quota-parte (o cachê, diríamos hoje), saída
da “cotação” (a soma de todos os ingressos pagos) do evento que eles tinham
animado. Eram maços e “bolos” de dinheiro – do jeito que o contratante dos
serviços recebia em espécie, passava-lhes o numerário adiante. Era a
contraprestação pela sua faina de soprar, de percutir e de dedilhar. E como aquele
dinheiro honesto foi importante! Saciou a fome, vestiu e curou no seio de cada
família daqueles homens, além de equipar as crianças da casa com o necessário
material escolar...
Eu, criança, vi
quão grande era o respeito que eles devotavam ao mestre que os tinha formado e
que, por ser como uma espécie de pai para eles, era apresentado aos seus filhos
como um parente idoso muito amado. Eu, particularmente, fui ensinado a chamá-lo
de vovô.
Aqueles homens não
executavam simples ações de soprar, percutir e dedilhar. Eles eram músicos. E
músicos dos bons. Eram, portanto, ações que encantavam e extasiavam, evocavam
lembranças, alimentavam amores e despertavam paixões em alvoradas, vesperais,
animações de arraiais festivos e bailes que venciam noites, atravessavam
madrugadas e podiam até romper manhãs. Num desses, nasceu um projeto amoroso
sem o qual eu não estaria aqui agora. Sim. Foi após ver um daqueles homens
tocar que uma jovem dez anos mais moça dele enamorou-se e, feitas na casa do
irmão dele que também tocava, a desejada aproximação, aquilo, com o tempo,
resultou em casamento. Isso começou há mais de 55 anos. Efeito real, em carne e
osso, da música do meu pai que encantou a minha mãe: este que vos fala, agora
já às vésperas dos 54 anos de idade, vendo-os, com a graça de Deus, apesar dos
problemas de saúde, vivos, resistentes e lúcidos para compartilhar este momento.
Aqueles homens, os
discípulos de Áureo Bartolomeu Franco, Mestre Arico – cuja morte, em 1976,
deixou meu pai, na prática, de luto por algum tempo, e a mim, aos 13 anos de
idade, com um insólito nó na garganta durante o velório – não deixaram o sonho
do velho professor fenecer. Com o passar do tempo, uns logo faleceram, é
verdade, como Rubens Franco, filho do Mestre, virtuose do saxofone, e Valmir
Rodrigues, grande pistonista; uns pararam definitivamente de tocar, é verdade,
por motivos vários, todos justificados, como Lourival Coelho, que faleceria em
1986, Itacy Figueiredo, falecido no ano passado, e Chico de Hermógenes, ainda
ativo familiar e socialmente; outros, pararam e depois voltaram por um curto
período, como Antônio Duarte Cantanhede, meu pai, e o seu amigo Juarez
Prazeres; mas outros, praticamente, nunca pararam, como Antônio Franco Cardoso,
que também já faleceu, mas tocou até pouco tempo antes de falecer, e Vicente
Braga e o meu tio João Cantanhede, que até hoje estão aí, associados a Oscar
Rocha Pinto, que não foi discípulo de Arico, mas recebeu a influência do legado
musical deste, inserido que ficou na geração musical formada pelo velho mestre.
Como diz a marchinha com que Pedro Barros Neto, nosso novel confrade na Academia
Arariense-Vitoriense de Letras, recém-empossado, homenageou-os no último
carnaval: eles continuam aí, “tocando e ensinando / os novos músicos / da nossa
bandinha”.
É para esses
homens e outros da mesma geração, também influenciados pelo legado musical do
velho Arico, que tanto alegraram a vida dos vitorienses, que a AVL presta hoje
uma grande homenagem, ao associar-se, nesta sessão solene comemorativa do
aniversário do Município de Vitória do Mearim, à Prefeitura Municipal, que vai
condecorá-los com pompa e circunstância, entregando-lhes a Comenda do Mérito
Vitoriense, em reconhecimento às suas virtudes artísticas e aos atos de
excepcional relevância que demonstraram nas suas respectivas carreiras, para
satisfação cultural e alegria do povo vitoriense. A AVL homenageia-os também ao
conferir a quatro dos discípulos do Mestre Arico ainda vivos os títulos de
membros da Casa, integrantes do seu Quadro de Beneméritos, por serem inegáveis
os serviços que eles prestaram à cultural local e por estarem, todos eles, com muito
mais de 80 anos de idade, dois deles ainda em atividade (Vicente Braga e João
Cantanhede), e dois deles, embora já parados, com um largo tempo de atividade
musical no passado (Antônio Cantanhede e Juarez Prazeres) – justo
reconhecimento à arte musical local. Homenageia-os, finalmente, a AVL ao
trazer, com o patrocínio da Prefeitura Municipal, a notável Big Band do Corpo de Bombeiros do
Maranhão para apresentar-se nesta solenidade, integrada, entre outros músicos,
pelo Subtenente Gérson, filho do saxofonista Benedito Figueiredo, “Seu Bina”,
arariense que fez muita parceria com os discípulos de Arico em Vitória do
Mearim, a ponto de ser compadre do meu pai, dando-lhe como afilhado exatamente
o Subtenente Gérson, aqui presente; Big Band que já foi regida pelo capitão
Neliomar, recém-ingresso na reserva, outro arariense filho de arariense, o
também músico Manoel Tambor, igualmente parceiro dos descendentes musicais de
Arico em muitas apresentações nesta terra.
Agora falo por
mim, mas como presidente da AVL. Vejam só: quando se tenta, tenta, mas não se
consegue, por falta de talento ou interesse despertado, seguir exatamente os
passos do pai e dos seus amigos, só nos resta buscar outros caminhos que, de
alguma forma, um dia nos levem a pelo menos reconhecer a importância da
caminhada que o pai e os seus amigos fizeram...
Mas não somente os
músicos estão sendo homenageados hoje.
Também em
reconhecimento às suas virtudes como atletas e aos atos de excepcional
relevância que demonstraram nas suas respectivas carreiras, para satisfação
cultural e alegria do povo vitoriense, a AVL presta hoje uma grande homenagem a
jogadores de futebol do passado recente e de um passado que não remonta a mais
de 60 anos. Homenageia-os nesta sessão solene, mais uma vez, irmanada com a
Prefeitura Municipal, que também vai condecorá-los com Comenda do Mérito
Vitoriense.
O ponto alto dessa
homenagem específica rememora o VIII Torneio Intermunicipal de Futebol do Maranhão, iniciado no dia
10.12.1961, no Estádio Nhozinho Santos, na Vila Passos, em São Luís, promovido
pela Federação Maranhense de Desportos (FMD). Era uma das mais populares
competições que havia no Estado, causando grande sensação na capital e nas
cidades donde provinham as seleções que a disputavam.
Participaram do intermunicipal
de 1961 as seleções de Bacabal, Caxias, Guimarães, Humberto de Campos, Ipixuna
(a mesma São Luiz Gonzaga), Pedreiras, Pinheiro, Rosário, São Bento, Viana e
Vitória do Mearim.
O “Papão do
Mearim”, como era chamada a seleção de Vitória, tinha chegado à capital desde o
dia 5. Pela grande influência do Cel. Arlindo Faray, que tinha sido comandante
da Polícia Militar do Maranhão e era cunhado e primo de Emílio Abraham Faray, o
juiz de direito de Vitória do Mearim, e ainda pelo trânsito fácil do delegado
de polícia de Vitória e um dos chefes da delegação, Adail José da Costa, nos
círculos policiais, a nossa seleção se concentrou e treinou no Quartel da PM,
sito na Rua da Palma-Centro, onde hoje é o Convento das Mercês.
Sem um grupo de
reservas completo e que tivesse alcançado o mesmo nível dos titulares, os
protetores e dirigentes da seleção vitoriense, entre os quais o prefeito
municipal, e também um dos chefes da delegação, Urany Gusmão da Costa,
providenciaram duas ou três aquisições para o time, como o jogador Orlando, de
São Luís; e o jogador apelidado de Nágua
Velha, de Penalva, que tinha o sobrenome Furtado e assim foi identificado
oficialmente pela FMD – socorreu-me, para que eu possa afirmar isso, o confrade
José Farias, cuja esposa é penalvense. Furtado, ou Nágua Velha, faleceu há
pouco mais de seis meses.
No dia 10 de
dezembro, na solenidade de abertura, o coronel José Pereira dos Santos,
presidente da FMD, hasteou o pavilhão do Brasil, enquanto a banda de música da
PM executava o hino nacional. Stélio Fonseca, vice-presidente do Moto Clube e dirigente
da FMD, leu o juramento do Intermunicipal, que foi prestado pelos competidores
presentes. O coronel então, em objetivo discurso, declarou inaugurado o
certame. Desfilaram na abertura as delegações de Vitória do Mearim, Pedreiras,
Coroatá e Pinheiro. Seguiu-se a primeira
rodada, enfrentando-se no Nhozinho Santos, no jogo inaugural do campeonato,
Coroatá e Vitória do Mearim.
A seleção de
Vitória, com Deco e Arãozinho, aquele finalizando uma jogada deste, marcou
primeiramente. Lambau, completando com êxito uma jogada de Ernesto, venceu, já na
etapa final, a perícia de Jardim, e Coroatá empatou o jogo (1 x 1). Terminou
assim o período regulamentar. A prorrogação de 30 minutos encerrou-se sem
mudança do placar. Seguiu-se a cobrança dos pênaltis. Pinto cobrou as
penalidades por Vitória, assinalando dois tentos e desperdiçando uma
oportunidade. O adversário, por Coroatá, fez o contrário: perdeu duas e acertou
só uma. No final, portanto, por 3 a 2, Vitória mandou os primeiros adversários
de volta para casa. A seleção vitoriense jogou com Jardim, Bazinho (João Câncio), Vicente, Mercês, Índio
(João Franco), Cristóvão (João II), Pinto, Deco (Índio), Itacy, João II (Deco)
e Arãozinho.
Duas notas
curiosas, uma delas muito lamentável: ao final do “cotejo de abertura”, o
treinador José de Assis, responsável pelo plantel de Vitória, emocionado com o
triunfo, desmaiou; e o estudante Fernando José Bastos, filho de Vitória,
aplicado aluno do Colégio São Luiz e enteado do industrial e desportista Nagib
Feres, presente no Estádio e também emocionado, ao acender um foguete para
comemorar o resultado alcançado pelos seus conterrâneos, detonou-o em uma das
mãos, destroçando parte do membro, motivo de ser internado no Hospital
Português, onde foi submetido a melindrosa cirurgia. Perdeu, no dia seguinte, a
prova final do ginásio e, por isso, a festa de formatura, que estava marcada
para o dia 17 de dezembro.
No dia 12, os
jornais noticiavam: o treinador José de Assis já estava bem e tinha declarado
que os seus jogadores estavam em muito boa forma, tinham recebido “bicho” de
300 cruzeiros pela vitória contra Coroatá e continuariam treinando por toda a
semana. Noticiavam também que times da primeira divisão estavam interessados na
contratação do “guarda-valas” Jardim e do zagueiro Vicente.
Em uma série de
jogos sensacionais, foram classificadas para a fase semifinal, além da seleção
de Vitória do Mearim, as de Humberto de Campos, Bacabal, Ipixuna, Rosário e
Pedreiras.
Em semifinal, a
seleção de Vitória enfrentou a muito aplaudida seleção de Humberto de Campos,
tida como uma das favoritas para o título. Como é comum no futebol, o rival
jogou melhor mas perdeu, por excesso de confiança, na partida contra Vitória em
21.12.1961. Aos 33 minutos do 1º tempo, Índio marcou para a seleção de Vitória.
Humberto de Campos empatou, convertendo um pênalti aos 10 minutos do 2º tempo.
Mas, aos 36 minutos da etapa derradeira, Deco consagrou o placar: 2 a 1 para Vitória do Mearim. Vitória do
Mearim jogou com Jardim, Índio, Vicente, Mercês, João Franco, Pinto, Itacy,
Jonas (Orlando), Furtado, Deco e Arãozinho.
A 23
de dezembro já se sabia que o vitorioso do jogo entre Bacabal e Rosário seria o
adversário de Vitória do Mearim na disputa final pelo torneio intermunicipal.
Era grande a expectativa. “As seleções
desclassificadas já retornaram aos seus municípios, enquanto desportistas de
Vitória do Mearim, Bacabal e Rosário deslocam-se para a capital com a
finalidade de dar maior incentivo aos representantes de suas comunas na decisão
do VIII Torneio Intermunicipal de Futebol” – noticiava o jornal Pacotilha-O Globo.
O inesquecível
embate final foi no dia de Natal, 25 de dezembro de 1961. Registrou Pacotilha-O Globo do dia 26 de dezembro:
“Movimentadíssimo,
sem dúvida, foi o cotejo de encerramento do VIII Torneio Intermunicipal de
Futebol.
Rosário e Vitória do Mearim, reunidos em sensacional
duelo, ontem à tarde, no Estádio Municipal Nhozinho Santos, preliaram durante
120 minutos para decisão do cetro máximo do certame patrocinado pela Federação
Maranhense de Desportos.
Os rosarienses começaram comandando o marcador,
chegando a assinalar 2 a 0 na primeira etapa. Nos últimos minutos do primeiro tempo, os
vitorienses diminuíram a vantagem dos conterrâneos do prefeito Ivar Saldanha (2
x 1). Na fase complementar, Vitória reagiu e obteve o empate (2 x 2).
Com igualdade de marcador, o período regulamentar foi
encerrado, sendo inaugurada posteriormente a prorrogação de trinta minutos.
Rosário triunfou pela contagem mínima, mas o atleta
Pinto, de Vitória, perdeu uma penalidade máxima, que daria novo empate ao seu
selecionado.”
Com tristeza, mas
de cabeça erguida, assim terminou em vice-campeonato o sonho futebolístico vitoriense
de 1961. Deco e Pínto (convertendo um pênalti), tinham marcado para a nossa
seleção no tempo regulamentar. Vitória
jogou a partida com: Jardim, Índio, Vicente, Mercês; João Franco, Pinto, Itacy,
Jonas, Deco, Furtado e Arãozinho (Cristóvão).
Com galhardia, eles
foram trazidos de volta para a nossa cidade pela lancha Estrela do Mar.
Dentre
os vitorienses que efetivamente jogaram os três jogos do campeonato, já
faleceram Bazinho (Euzamar dos Santos Barros), Cristóvão Dutra Martins, Índio
(José Raimundo Furtado Prazeres), Itacy
Nery Matos Figueiredo, Jardim (José
de Nazaré Jardim), João Câncio
Almeida, João Bezerra Franco, Jonas Braulino Correa e Pinto (Antônio
Carlos Rodrigues Figueiredo). Estão vivos e hoje aqui presentes: o vitoriense
por adoção Arãozinho (Arão Almeida Faray Filho) e os de nascença Deco Vieira
(Ademar Coelho Vieira), Mercê Marinho (Moacy das Mercês Marinho) e Vicente
Braga (Vicente Antônio Gonçalves).
Muitos relatos são
ouvidos a respeito dessa história ocorrida há quase 56 anos. Do nosso confrade
José Farias, discursando quando de sua posse na AVL, em novembro de 2010, ouviu-se,
e depois leu-se no discurso impresso, prazerosamente, estas maravilhosas
referências àquele momento marcante da vida cultural vitoriense:
“A participação da seleção de Vitória do Mearim no
Torneio Intermunicipal teve o total apoio do Prefeito Urany Gusmão da Costa
(Punim) e seu irmão Adail, que era o delegado em Vitória. Conseguiram
hospedagem no Quartel da Polícia Militar em São Luís, bem como o técnico José
de Assis para treinar a Seleção, um oficial da reserva da Polícia Militar.
Tivemos também a cobertura completa dos passos da seleção pelo jornalista
vitoriense César do Egito Lopes Gonçalves, que, como diretor de jornalismo da
TV Difusora, escrevendo em vários jornais sobre esportes, fez a cobertura
completa da Seleção de Futebol de Vitória do Mearim. A União Cultural e
Recreativa dos Estudantes Vitorienses-UCREV, com o seu apoio logístico e
psicológico, não descuidava de estar sempre presente, junto aos jogadores, para
que estes não se desesperassem com saudade da família, o que poderia acontecer.
(...) Os jogadores não deveriam ficar sozinhos nem com tempo ocioso. Assim,
pela manhã eles tinham o treinamento e à tarde os estudantes iam lhes fazer
companhia, levando jornais, revistas, lanches e proporcionando passeios. (...) Ficamos
como vice-campeões, mas isto não nos abateu, pois estávamos lado a lado,
dizendo aos jogadores que fomos verdadeiros campeões pela luta empreendida.
E era uma verdade incontestável. A festa na chegada em
Vitória do Mearim foi uma apoteose. Feita para verdadeiros campeões. A alegria
e o contentamento, demonstrados pelo povo ao receber os jogadores, eram
indescritíveis. Música com a banda de Seu Arico tocando o sucesso “É com esse
que eu vou”, verdadeiro hino da seleção vitoriense, e depois os discursos e
prêmios.”
É dito com
unanimidade que nunca houve em Vitória seleção igual àquela. Que muitos bons
jogadores de futebol surgiram antes e depois dela. Mas que nenhum conjunto de
jogadores foi mais talentoso do que aquele do intermunicipal de 1961, até
porque permaneceu sem alteração de sua composição durante cinco anos, todos
jogando juntos, perfeitamente entrosados e com uma forma física invejável, sem
registro de contusões graves nesse período.
Respeitamos essa
convicção. Por isso, sobre ela, colheram-se elementos da memória oral, com os
jogadores Arão Faray, Vicente Braga e Deco Vieira, e com um atleta da geração
seguinte, que também sabe muito sobre o futebol vitoriense, o goleiro Antonio
Benedito Dutra (Mandu). Mas, principalmente, fomos buscar nas fontes primárias
o que havia a respeito. Sabendo que, se houve, já não há registros documentais feitos
pela Liga Esportiva Vitoriense sobre aquela campanha, não fomos, contudo, à
Federação Maranhense de Futebol, um dos ramos de sucessão da FMD, buscar
súmulas de jogos e outros registros, cuja existência é incerta. Mas fomos
buscá-los onde foram lançados com a carga da emoção de quem narra o jogo do dia
anterior e da emoção que trespassa o andamento de um campeonato: as páginas de
esporte de um jornal de São Luís que existia naquela época, Pacotilha-O Globo. Foi
das edições de dezembro de 1961 desse jornal ludovicense que se colheu a maior
parte das informações ora reproduzidas, para que não se venha a esquecer jamais
daqueles momentos vividos tão entusiasticamente pelo povo vitoriense há quase 60
anos.
A AVL, respeitando
essa convicção, associou-se à Prefeitura Municipal na presente homenagem
àqueles atletas de 1961, cuja campanha memorável fica, a partir de agora, pela
homenagem que estamos, AVL e Prefeitura, fazendo aos seus integrantes, vivos ou
já falecidos, como patrimônio imaterial do vasto acervo cultural do povo de
Vitória do Mearim. Assim como patrimônio cultural imaterial é já a nossa
lembrança da performance do jogador Esdras Bezerra Franco, da geração que
sucedeu àquela da seleção de 61. O
confrade Almir Coelho, comentando, em janeiro último, no grupo de WhatsApp da
AVL, o falecimento desse outro grande atleta do passado, que tinha ocorrido no
dia 18 daquele mês, disse:
“Ele foi o melhor jogador de futebol de
Vitória do Mearim dentre os que eu vi jogar ainda no auge da forma física e
técnica. Chutava muito bem com os dois pés. Muito bom nas cabeceadas. Driblava
também muito bem. Tinha ótima presença de área e força física. Goleador, era
imbatível na grande e na pequena área. Perfeito. Era meu ídolo e meu amigo.”
Parafraseando José
Farias, no final do seu discurso de posse na AVL: aos jogadores de futebol ainda vivos e presentes, bem como àqueles já
falecidos, agora representados aqui pelos seus familiares, nosso especial
cumprimento e o agradecimento por terem feito o povo de Vitória tão feliz!
Senhoras e
Senhores,
Vitória do Mearim
aniversaria e quem deve receber os presentes são os seus filhos.
O nosso mais
importante bem cultural de caráter material é a igreja matriz de Nossa Senhora
de Nazaré. Construída pela Coroa Portuguesa e inaugurada em 1784, incendiada em
1827, reconstruída e reformada aos poucos, principalmente mediante esforços
financeiros da própria comunidade católica ao longo de quase cem anos, quando o
Padre Eliud Nunes Arouche aqui chegou para entregar a sua vida em prol deste
povo, em 1922, ele a entendeu ainda inacabada. O edifício, desde então, foi
bastante alterado. E nenhum instrumento de proteção a esse tão valioso bem
cultural existia até o final dos anos 1990. Foi quando o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) procedeu ao inventário
arquitetônico do templo e dos objetos do seu interior, datando-os, na medida do
possível, e descrevendo-os tecnicamente, além de fotografá-los e codificá-los
em numeração integrada ao conjunto dos bens da mesma natureza existentes no
Brasil. São mais de cinquenta itens com grande valor histórico, pela sua
antiguidade, e/ou valor artístico, pelo esmero com que foram criados ou o estilo
de arte a que se filiam. A igreja matriz de Vitória do Mearim está hoje
catalogada, inclusive no que tange ao seu acervo interior, no bojo do
Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados. Cada objeto tem um número, a
começar pelo templo.
O inventário é uma
forma de proteção de bens culturais prevista na Constituição Federal. Descaracterizar
bem dessa natureza é ato ilícito, sujeitando o responsável a responsabilização
por crime e dano ao patrimônio coletivo. É a letra da lei. Em caso de extravio
ou subtração do patrimônio desse tipo, entra em ação a Polícia Federal, que
guarda uma cópia do instrumento de inventário.
Mas o inventário,
feito pelo Poder Público, não basta para a completa proteção do bem cultural. É
preciso que o Poder Público assuma também a responsabilidade, que lhe cabe, de
contribuir para a manutenção das características do bem inventariado, mediante
auxílio para a conservação e a restauração, sempre que necessário.
Em Vitória do
Mearim, desde o ano de 1990, quando foi instituída a Lei Orgânica Municipal, de
cuja elaboração estive à frente, existe, exatamente naquele diploma legal,
dispositivo prevendo o tombamento da igreja matriz pela Prefeitura, que é a
forma de, ao mesmo tempo, proteger e assumir as responsabilidades citadas há
pouco. Só que nunca fora feito.
Agora, feliz e
finalmente, vem a lume o decreto que os constituintes municipais de 1989/1990,
em nome do povo, mandaram que fosse editado. Trata-se de ato da Exma. Sr.
Prefeita Dídima Maria Correa Coelho. Particularmente, não poderia esperar algo
diferente, sabendo, como sei, que Sua Excelência foi partícipe do processo de criação
da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, que defende a nossa cultura. Foi
partícipe ao receber generosamente em sua casa, para reuniões, os membros do
grupo idealizador desta entidade, nos idos de 1999, entre os quais estava o seu
marido, Almir Coelho Sobrinho.
O tombamento da
matriz toma como base o inventário feito pelo IPHAN no final dos anos 1990, o
que significa dizer que, tanto quanto possível, a Prefeitura, em cooperação com
a Paróquia, buscará doravante o retorno ao status
quo ante, ou seja, a preservação do nosso maior bem cultural material,
conservando-o e restaurando-o, a partir do estado em que ele se encontrava no
momento do inventário, substituindo por alternativas adequadas as alterações
que se procederam em desacordo com aquele levantamento feito pelo órgão federal
de proteção máxima do patrimônio cultural nacional.
Senhoras e Senhores,
A
Academia Arariense-Vitoriense de Letras sente-se extremamente honrada em co-participar
deste momento em que se presenteiam os músicos da geração formada por Mestre Arico, patrono da Cadeira 6 do
seu quadro de membros efetivos, ocupada pela doutora Maria do Amparo Coelho dos
Santos, os contemporâneos artísticos dessa geração e os que por ela foram
influenciados em sua arte. Sente-se honrada em fazê-lo também quanto aos
atletas vitorienses, por nascimento ou por adoção, que disputaram, pela seleção
de Vitória do Mearim, os jogos do VIII Torneio Intermunicipal de Futebol do
Maranhão, sagrando-se vice-campeãos em heroica campanha, de honrosa memória
para o Município. Assim igualmente quanto aos reservas daquele selecionado, que
também jogaram em outras competições da mesma época, a exemplo de Didier Macedo
Dutra, falecido no ano passado, e Lourival Teixeira de Carvalho, ainda ativo,
familiar e socialmente, e aqui presente. E, finalmente, a dois atletas que se
notabilizaram na geração seguinte do futebol local, pelo excepcional talento
demonstrado (Esdras Bezerra Franco, in memoriam), e tanto pelo talento quanto pela
capacidade de manter firme o cultivo do esporte e da tradição que dele se gerou
(Antônio Benedito Macedo Dutra, Mandu).
Por
fim, reconheça-se, por ser de justiça: a homenagem a esses 49 homens (10
músicos vivos e 20 já falecidos; 06 atletas vivos e 13 já falecidos) só está
sendo melhor e na justa medida do que todos eles merecem porque a Prefeitura
Municipal atendeu às sugestões que lhe foram feitas. A Exma. Sra. Prefeita, com
apurada sensibilidade cultural e espírito máximo de cooperação, acatou a ideia
de instituir a Comenda do Mérito Vitoriense e outorgá-la a esses ilustres
vitorienses, autores de marcas indeléveis na cultura local, autores de bens
imateriais que hoje se integram perfeitamente ao nosso patrimônio cultural,
responsáveis por tornar tão alegres o nosso povo em determinados momentos da
nossa história.
Mas
a noite de hoje não seria completa se, na vertente do patrimônio cultural
material do povo vitoriense, não se fizesse algo também. E era preciso fazer
algo de máxima importância. Fizemos. Em nome da AVL, fizemos mais uma sugestão,
e uma vez mais fomos gentilmente atendidos pela Sra. Prefeita, sempre
demonstrando sensibilidade e apreço para com as coisas da cultura da nossa
terra, além de compreensão da importância de determinados atos como gestora
pública. O que fizemos nesse sentido? A proposta de tombamento da igreja matriz
de Nossa Senhora de Nazaré, subsidiada com os dados históricos e técnicos que,
resumidamente, já mencionamos neste discurso.
À
Prefeita Dídima, assim como ao Conselho Paroquial, e especialmente ao novo
pároco, Pe. Isaac, que compreensivamente recebeu a encampou a ideia do
tombamento, que tivemos de defender no momento para isso destinado em recente
reunião, ficam os agradecimentos da Academia Arariense-Vitoriense de Letras.
Contem conosco, Sra. Prefeita e Sr. Vigário, para outras iniciativas do mesmo
porte. Da Paróquia a AVL é parceira desde que surgiu, em janeiro de 2000. Da
Prefeitura ainda não tínhamos conseguido ser, efetivamente. Não havia abertura
para isso e era evidente, ao meu sentir, a insensibilidade da outra parte, o
que não nos animava a tentar construir pontes que nos aproximassem mutuamente.
Agora o tempo é outro. Graças a Deus, principalmente. E, secundariamente,
graças ao povo, que precisa ser, cada vez mais, o verdadeiro dono do seu
destino.
Parabéns,
Vitória do Mearim, por ontem, que durou 184 anos, contados somente desde a
emancipação política plena; e por hoje, que nos aponta um futuro multissecular
de progresso e paz!
Sejamos
todos muito felizes, sempre!
Muito
obrigado.
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Nota:
Os discursos acadêmicos serão publicados posteriormente.
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Nota:
Os discursos acadêmicos serão publicados posteriormente.
ALGUNS REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO EVENTO
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Fotografias:
Félix Fotos, AVL, Paulo Tarso Barros, João do Som, Prefeitura Municipal e arquivo familiar de Pedro Barros Neto.
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