"Um sorriso de civilização"
Jomar Moraes (*)
Coloquei entre aspas o título desta crônica, para
indicar que a expressão não é minha. Mas lancei mãos dela, por estas duas
razões: porque desejo, com tal expressão, homenagear a memória de seu autor, o
polígrafo e acadêmico Astolfo Serra, cujo centenário de nascimento transcorre
neste ano, e porque entendo que esse título tomado de empréstimo é
perfeitamente adequado ao meu assunto de hoje, conforme logo adiante se verá.
Nos anos 30 deste século, após visitar Buriti Bravo,
onde foi festivamente recebido pelo grupo de intelectuais que ali mantinham um
admirável movimento cultural, Astolfo Serra escreveu um artigo intitulado Um
Sorriso de Civilização, no qual deixou registradas suas entusiásticas
impressões acerca do qual
Também eu estou aqui para testemunhar o que vi no
último fim de semana, atendendo a convite que me fizeram os organizadores da
Academia Arariense-Vitoriense de Letras, oficialmente fundada no último 29.
Já havendo participado das solenidades de fundação
da Academia Imperatrizense de Letras, em 1991, e da Academia Anajatubense de
Letras, no ano passado, e acompanhando com vivo interesse o auspicioso funcionamento
dessas instituições e de suas congêneres sediadas em Barra do Corda e Caxias,
sinto que minha experiência nesse campo enriqueceu-se bastante com os atos que
testemunhei no último sábado.
Mais do que todas as suas demais co-irmãs, essa que
é a mais nova entre as academias de letras do interior do nosso estado, tem um
grande desafio diante de si. E isso, principalmente, por motivo de uma
peculiaridade de sua constituição, que é o fato de estar situada
simultaneamente em duas cidades. E situada mediante a existência de duas seções
locais, uma em Arari, outra em Vitória do Mearim e, além disso, de ter sede,
alternadamente, numa das duas cidades.
Esse fato poderá dificultar o bom funcionamento da
entidade, embora o otimismo e as esperanças com que devemos vê-las aconselhe a
previsão de que esse será um fator altamente positivo para uma atuação dinâmica
e muito criativa, ao estímulo de uma saudável emulação.
Se os atos inaugurais dessa nova academia servirem
como bons indicadores de sua atuação futura, estou convicto de que essa
instituição terá um relevante papel a desempenhar nas cidades de que pretende
ser a principal expressão cultural.
Na reunião de Arari, em que foram aclamados os
membros fundadores da entidade e aprovados seus estatutos, e na que se seguiu
em Vitória do Mearim, para escolha e posse de sua primeira diretoria, diversos
oradores se fizeram ouvir, sempre expressando o entusiasmo de que estavam
possuídos. E todos apresentaram trabalhos cuja nota dominante foi a evocação
dos mais representativos valores regionais. Gente que se distinguiu pelo
talento, pela inteligência, pelo saber e pela obra realizada, mas que nem
sempre conseguiu ultrapassar o reconhecimento local, cada vez mais esmaecido
pelo passar do tempo.
Essa é, precisamente, uma das funções das academias:
reconhecer, proclamar e cultuar os valores representativos de um povo. E isso a
Academia Arariense-Vitoriense de Letras já começou a fazer com muita
competência, já no dia de sua fundação, elevando à dignidade de patronos 40 figuras
entre as mais representativas da vida cultural daquela região.
Participei desse ato, certo de que cumpria um dever,
fazendo ali representada a Academia Maranhense de Letras. E tive a
acompanhar-me em tal função o confrade Mílson Coutinho, que dirigiu palavras de
incentivo aos que se lançaram a um grande desafio. Essas palavras deram o
contraponto às minhas, marcadas pelas adversidades sobre não ser fácil manter
atuante uma academia.
Espero sinceramente que a mais nova academia do
interior de nosso estado seja, realmente, o prenúncio auspicioso do que ali
presenciei, e que me pareceu um verdadeiro sorriso de civilização.
O entusiasmo do primeiro presidente da instituição,
Washington Cantanhede, é um bom aval para o florescimento que se espera, como
resposta positiva às inquietações dos que se reuniram para a fundação da
Academia Arariense-Vitoriense de Letras.
(Coluna “Hoje é dia de...” Jomar Moraes; jornal O Estado do Maranhão, 02.02.2000)
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(*) JOMAR MORAES
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(*) JOMAR MORAES
Nasceu em
Guimarães-MA, a 6 de maio de 1940 e morreu no dia 14 de agosto de 2016,
em São Luís, aos 76 anos, o pesquisador, ensaísta, cronista, crítico e historiador
da literatura maranhense.
Jomar Moraes foi membro da Academia Maranhense de
Letras, instituição que presidiu por 22 anos em 11 mandatos consecutivos, se
tornando o presidente que por mais tempo presidiu a Casa no Maranhão. O
escritor ocupava a cadeira de número 10.
Sua história se mistura à própria história da
literatura e cultura maranhenses. Bacharel em Direito pela Universidade Federal
do Maranhão, o escritor ainda se tornou especialista em Comunicação Social pela
mesma universidade e carrega o título de Mestre em História também pela UFMA.
Distinguido com 11
prêmios literários e com os diplomas de Personalidade Cultural (1980) e de
Mérito Cultural (1981, 1988, 2000 e 2005) da União Brasileira de Escritores –
Seção do Rio de Janeiro.
Jomar Moraes visitando a II Mostra de Literatura Maranhense no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (julho 2014) (Desembargador Serejo, Washington Cantanhêde, Jomar e Paulo Tarso Barros) |
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