segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

QUARENTA ANOS DE HISTÓRIAS E LEMBRANÇAS

QUARENTA ANOS, HOJE


Texto: Washington Luiz Maciel Cantanhêde


Era um domingo, 18 de dezembro de 1977.
Pela manhã, tivemos missa em ação de graças na igreja matriz de Nossa Senhora de Nazaré e a cerimônia de entrega dos certificados no Salão do Centro Social da Paróquia. À noite, um coquetel e a valsa dos concluintes no mesmo local.
Estávamos na Vitória do Mearim de 40 anos atrás. Éramos a primeira turma a concluir o 1º grau completo no Instituto Nossa Senhora de Nazaré, o colégio da Paróquia fundado em 1923 pelo padre Eliud Nunes Arouche, cujo oferta de ensino o padre Sergio Ielmetti conseguira autorização, em 1974, para ampliar. Não fora isso e não teríamos continuado a estudar ali após terminar a 4ª série (primário).
No ano anterior (1976), fôramos testemunhas do início da transferência do colégio, do anexo do lado esquerdo da igreja matriz, onde funcionara desde 1923, para o prédio do Centro Social da Paróquia, antiga casa paroquial.

Agora, a colação de grau, quando terminada a 8ª série (ginásio), e, com um nó na garganta, despedíamo-nos do velho educandário, e uns dos outros, para tomar rumos os mais diversos na vida!

Recordo meu discurso como orador oficial, com palavras especiais de agradecimento e afeto dirigidas aos colegas, aos nossos pais, aos professores, ao diretor e à própria instituição. Concluí, pedindo a Deus que nos assistisse, a nós concluintes, na escalada do saber, e que não nos deixasse esquecer o compromisso expresso em acróstico formado com nossos nomes no convite de formatura: Servir a Vitória sob bênçãos de Deus.

Passados 40 anos, e eu já sob o assédio de 54 invernos, começam a cavar-se as linhas do meu rosto, como diria Shakespeare, e vejo um tanto esmaecida pelo tempo, sob brumas mearinenses, a imagem da criança que, em 1971, sabendo ler e escrever mas ainda precisando de muito para vencer as trevas, foi conduzido pelas mãos resolutas do próprio pai e vestido em calça cáqui, camisa branca e gravata preta, confeccionadas carinhosamente pela própria mãe, passou a assentar-se nos rústicos bancos escolares do Instituto Nossa Senhora de Nazaré.
Tudo começara, para mim e algumas dezenas de colegas, no ano de 1969, embora então nem estivéssemos ainda estudando no Colégio do Padre, como era chamado o estabelecimento de ensino. Naquele ano, o colégio tendia à exaustão. É quando, a 16 de agosto, chega em Vitória do Mearim, de cuja paróquia foi, no mesmo dia, publicamente nomeado vigário pelo arcebispo D. João José da Mota e Albuquerque, o padre italiano Sergio Ielmetti, de 40 anos de idade, sendo recebido festivamente para suceder ao cônego Eliud Nunes Arouche, cansado pelos 71 anos de vida e 47 de incansável paroquiato.
Dentre todas as realizações do padre Sérgio – e são muitas, sem falar no conjunto de obras físicas que realizou –, destacam-se a revitalização e ampliação física e organizacional do Instituto Nossa Senhora de Nazaré, que, aos poucos, foi dilatando o leque de serviços educacionais prestados aos vitorienses, hoje oferecendo os cursos completos do ensino fundamental e médio.
Em dezembro de 1977, ao desbravar a selva da ignorância, revitalizando e ampliando a obra educacional do seu antecessor no Instituto, Padre Sergio acabava de marcar, portanto, a vida de vários jovens, alguns dos quais eram alunos que tinham estudado no colégio da Paróquia desde o início do primário: 
Alda de Jesus Alves da Silva, Américo Azevedo Pereira, Aparecida Martins, Benedito de Jesus Fernandes Dutra, Antonio Alberto Costa da Silva, Cícero Romão Fernandes de Sousa (1),  Deusanir Pereira Viana, Eduardo Fernando Jardim Pinto, Hilton Mariano Rodrigues Filho, Hugo Jardim Dutra, João Benedito Neves, Kalena de Jesus Rocha da Silva, Lucílio Fernandes Lobo, Luzimar de Jesus Souza, Maria Alice Nunes Rodrigues, Maria da Conceição Cavalcante, Maria de Jesus Mendes da Silva, Maria das Dores Pacheco Rocha, Maria do Espírito Santo Fernandes Neves, Maria Isabel Fernandes de Souza, Maria Janileth Sousa, Marieth Dutra da Silva, Marília Rodrigues Pinto, Marisa Vilma Rodrigues, Mary Márcia Marinho Prazeres, Moisés Marinho Gonçalves, Osvaldo Marinho Fernandes, Raimundo José da Silva Filho, Washington Luiz Maciel Cantanhede e Zenilde Teles Santos.


Relembro passagens memoráveis da minha história no INSN: as boas notas, mas também os atos de insubmissão que me valeram a repetição de centenas de frases, a “prisão” além do horário normal das aulas e as suspensões (poucas); os exercícios de leitura em voz alta, de frente para a turma, que me ensaiaram no enfrentamento do público; as pesquisas difíceis, sem material bibliográfico disponível na acanhada cidade (como aquela para relacionar todos os países do mundo com as respectivas capitais, feita precariamente sobre uma representação do globo terrestre!); as aulas revestidas do rigor disciplinar do Pe. Sérgio Ielmetti e dos professores Maria José Pereira, Celeste do Carmo Freitas Maciel, Haydée Franco Silva, Manoel Joaquim Coimbra Pereira (Manoel da ACAR), Maria Clara Gomes, Iracy Rocha, Germana Silva, Maria Dalva Silva, Severino Antonio Moura de Araújo, Maria da Graça Lira Nunes e vários outros.
E as festividades? Ah, as festas! Comemorações de efemérides, quadrilhas juninas, jograis, peças teatrais, piqueniques etc. E como não recordar a comemoração do cinquentenário do colégio! Com um pequeno cerzido na calça de farda e, por isso, um pouco envergonhado, fiz, na igreja matriz, no dia 9 de setembro de 1973, diante do arcebispo D. João José da Mota e Albuquerque, das autoridades locais e da comunidade, meu primeiro discurso, escrito não sei bem por quem, mas fiel e desembaraçadamente decorado, saudando, “com suma satisfação, ... como representante dos concluintes do 1º ciclo do 1º grau ... os primeiros alunos, ... basilares concluintes dos idos de 1923/1927”!
Jamais esquecerei as velhas aulas de educação moral e cívica, a doutrina que o regime de exceção pós-64 criou para a estudantada, mas, que para alguma coisa serviu, pois, nesse particular, ecoam até hoje na minha mente as lições do professor Manoel da ACAR:
- Que é autodomínio? – perguntava o mestre.
- É o domínio de si mesmo – respondíamos, com palavras decoradas do livro de capa verde, amarelo, azul e branco.
A definição é óbvia, mas como essa lição tem sido importante! Quando a adversidade bate à porta, vem a lembrança: preciso de autodomínio! (É manter o controle dos nervos e a ameaça de desespero vai embora...).
Mais ainda exigia o marcante professor – “Defina o caráter”.
E nós: “O vocábulo caráter vem de um verbo grego que significa ‘marcar’; o caráter é, pois, a marca de uma pessoa”.
Preciso dizer mais a respeito da importância de ter isso sempre presente na vida?!... 


Portanto, celebremos hoje, 18.12.2017, o tempo que passamos juntos ali, de salutar memória, e os quarenta anos de vida subsequentes, vividos, sem dúvida, de uma forma ou de outra, sob os influxos daqueles ensinamentos e daquele tempo bom, tempo do surgimento de laços de amizade sincera, do tipo que nasce sem qualquer interesse mesquinho, a amizade verdadeira, própria da infância e da adolescência, que cultivamos nós, os concluintes da primeira turma do 1º Grau do Instituto Nossa Senhora de Nazaré, em 18.12.1977 (2)

Muito obrigado aos nossos pais, ainda vivos ou in memoriam! Muito obrigado, Monsenhor Sergio Ielmetti!
...................
(1) Este colega já faleceu, lamentavelmente.
(2) 1986 – o INSN é autorizado a oferecer ensino em nível de 2º Grau, na qualificação de técnico em agricultura; 1988 – o colégio é reconhecido, pelo Conselho Estadual de Educação, para funcionar com o ensino de 2º Grau (atual Ensino Médio); 1998 – a escola começa a oferecer, em nível de Ensino Médio, o Curso de Habilitação para o Magistério de Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries).

Um comentário:

  1. Boa noite
    Sou amigo do Deusanir Pereira viana,gostaria que me informarsem o telefone dele.moramos em São Luis na casa do Estudante,
    Grato
    Machado

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